VOLUNTARIADO
04 de outubro de 2020 | Governo do Estado de Rondônia
Neste ano atípico, Rondônia comemora não apenas a vida das espécies
resistentes, mas a recuperação daquelas sujeitas a maus-tratos, caça
desenfreada e queimadas.
A salvação de diversos tipos de animais bípedes e quadrúpedes é feita no
Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (Cras), na sede do Batalhão de
Polícia Ambiental (BPA), em Candeias do Jamari, a 18 quilômetros de Porto
Velho.
Hoje (4) é também lembrado o Dia de São Francisco de Assis, protetor dos
animais e da natureza. Ele nasceu na cidade de Assis, Itália em 3 de julho de
1182 e morreu em 4 de outubro de 1226.
Em meio à maldade humana, o voluntariado despertou, chegando à
internet. Em 21 de março de 2018, o Projeto Adote 1 amor começou
suas atividades com muita vontade de diminuir o abandono e o sofrimento de cães
em Porto Velho.
Veterinário Luiz Maia cuida de Cani, queimado num posto de gasolina |
Um cachorrinho de nome Cani foi o primeiro a ser
resgatado após ser queimado num posto de combustível próximo à Faculdade de
Rondônia, em abril daquele ano.
“Muita gente se comoveu com a situação”, lembra a administradora
Patrícia Lauer, que também trabalha na Maternidade Municipal da capital.
“Cani ficou dois meses internado em uma clínica veterinária,
sob a responsabilidade do médico veterinário Luiz Maia; foi ressocializado e
adotado no início de 2019 por Luanda [não voluntária]”.
O organização comunitária voluntária começou com uma página na rede
social, atualmente mobilizando 8,5 mil seguidores, na qual funciona como
plataforma de vendas on-line. Foram 779 posts até esta semana, cerca de 300 com
adoções finalizadas.
“A visualização é grande, as pessoas nos procuram enviando fotos dos
animais que elas têm em casa, ou que acharam na rua”, diz. Com gratidão,
ela menciona outros veterinários parceiros: “Dr.Francisco e Dr. Renato de
outras clínicas veterinárias da cidade; também já fizemos eventos juntamente
com a Taís e o Dr. Carlos Henrique”.
O ato de adoção é feito entre o tutor e a pessoa interessada. Conforme
Patrícia, em consequência da grande demanda, os animais são mostrados na rede
social. “Somos 21 moderadores da conta, promovemos bazares para a causa animal
e arrecadamos doações e ajuda monetária de nossos seguidores”, explica.
“A pessoa lê a página, escolhe o animal com o qual
se identifica, entra em contato com o número telefônico do tutor, e nós apenas
mediamos essa adoção”, explica.
A comprovação da adoção mediante o envio de foto por quem adota o animal
é essencial ao funcionamento do projeto. “Infelizmente, nem todos os tutores,
nem todos os novos donos fazem isso, e nós não temos como cobrar, porque
fazemos o trabalho voluntário”, alerta.
Patrícia usou cartão de crédito e conta que se endividou nas primeiras
ações do grupo, e a partir daí optou por ser promoter de adoções.
Jorge, adotado por Patrícia |
Zulema, de Emanuelle |
Veterinários parceiros tiram dúvidas, entre os quais, a médica
veterinária e bióloga Adriana Soares, que se tornou conselheira honorária do
grupo, depois de resgates e socorros. “Os demais, mesmo alguns não fazendo
parte do projeto, são também honorários”, enfatiza Patrícia.
O projeto não recebe animais, porque não dispõe de abrigo, nem de carro,
porém, promove diversas ações solidárias e de amparo aos animais. O grupo vende
livros e objetos de decoração. A arrecadação é demonstrada nos storys da
página, da mesma forma, os investimentos em ações em execução ou em
planejamento.
A equipe principal de voluntários e moderadores trabalha na página da
rede social praticamente 24 horas, informa Patrícia. “São pessoas incríveis:
conto com a ajuda da Bia, Andréia, Emanuela, Carlos, Gabriela, Leonara, Ingrid,
Letícia, Nael, Sabrina Sá, Sabrina Ávila, Tayná, Kattyllyn [da filial em
Guajara-Mirim], Letícia, e Naell”, lembra.
Outra equipe de pessoas que têm carros ajudam na parte de boas ações
do Adote 1 amor. “Com a falta de abrigos e de verbas específicas,
cabe a nós, protetores independentes, promovermos o que achamos de maior valia
em prol de animais
abandonados, mutilados, infelizmente maltratados”.
Patrícia diz que é difícil pensar em desistir, mesmo diante de
dificuldades: “Sempre deixamos bem claro na página que o Adote trabalha
por amor e não temos como abandonar algo que está dando certo”. “Todos têm seu
emprego, sua faculdade, temos os moderadores na rede social, fazemos tudo
conforme a nossa disponibilidade de horas”.
O propósito desse projeto é erradicar toda a violência e abandono animal
em Porto Velho.
“Os animais só querem o nosso bem, como nós queremos o bem deles, porém,
muitas vezes a ignorância permeia a maldade, maus-tratos, e uma cultura
enraizada de abandono”. E acrescenta emocionada: “Vê-los ressocializados
é a nossa gratificação; se ” não fizermos, não têm quem faça”, apela lembrando
às pessoas que podem procurar ajuda.
Cuidador Reinaldo Soares, ao lado da ração doada |
Muitas pessoas adotam animais na capital, quando acontece de se
depararem com o sofrimento deles à sua frente. Caso de Emanuelle Pontes,
moradora no bairro Conceição [Zona Sul de Porto Velho].
Segundo ela, um ano atrás apareceu em seu quintal uma gatinha magra,
dentes quebrados e faminta. Adotou-a imediatamente.
“Dei o nome de Zulema para ela e percebi que ficou
traumatizada quando foi vacinada, e isso deve ter prejudicado a cria de cinco
filhotes, porque três morreram”, conta. Emanuelle ficou com um filhote e deu
outro à cunhada.
“A pena agora aumentou de dois a cinco anos, para
quem pratica maus-tratos, fere ou mutila animais”, adverte
a delegada Janaína Xander Wessel, titular da Delegacia Especializada em
Repressão a Crimes Contra o Meio Ambiente em Porto Velho.
Equipe do Adote 1 Amor reunida para comemorar adoções; entidade recebeu voto de louvor na Câmara Municipal de Porto Velho |
Ela se refere à Lei 1.095/2019, sancionada terça-feira (29) pelo
presidente da República, Jair Bolsonaro. Conforme a nova legislação, o infrator
também fica impedido de ter a guarda de novos bichos. Esse texto modifica o
artigo 32 da Lei de Crimes Ambientais 9.605/98, que previa a pena previa de
três meses a um ano de reclusão, além de multa.
Pouco mais de um ano atrás, policiais ambientais recolheram da Avenida
Jorge Teixeira um tamanduá ferido. Havia perdido seu hábitat
natural.
De acordo com a delegada, o Núcleo de Proteção aos Animais promove ações
de conscientização e combate a esses delitos, mas é preciso que a população
colabore. “Temos que ampliar nossa atuação para melhor proteger os animais”.
“Agora será outra vez possível atender à demanda para a destinação de
animais vítimas de maus-tratos”, considera a médica veterinária do escritório
regional de gestão ambiental da Secretaria Estadual do Desenvolvimento
Ambiental (Sedam) em Ji-Paraná, Márcia Gomes da Silva.
Ela elogia a reforma e a reabertura do Cras, depois de sete anos
desativado, na sede do BPA.
O primeiro pássaro a ser resgatado pela equipe do Cras foi uma coruja,
lembra o comandante, tenente Alisson Pereira. “A soltura aconteceu no dia 8 de
abril deste ano”, ele diz.
Desde março de 2020, 43 animais de diversas espécies passaram por
ali. O Cras voltou a funcionar em março deste ano,
no início da pandemia do coronavírus e antes das queimadas.
Gaio ganhou o nome dado por soldados do Batalhão de Polícia Ambiental |
CONSTANTE DESAFIO
O Cras recepciona, faz triagem e reabilita animais silvestres
apreendidos em operações de combate ao tráfico, atropelados nas rodovias,
encontrados machucados e entregues voluntariamente pela população ao BPA, para
que depois de reabilitados sejam devolvidos à natureza.
Segundo a delegada Janaína, apesar de tomarem conhecimento da Lei nº 4.656 de 20 de novembro de 2019, que
dispõe sobre a obrigatoriedade de constatarem indícios de maus-tratos em
animais sob seus cuidados, pet shops ainda não fizeram denúncias.
“Eles têm ciência disso, porém, a fiscalização ainda é difícil e nós
precisamos encontrar uma forma deles nos comunicarem situações assim, sem serem
expostos ou, possivelmente, prejudicados”, diz a delegada. Pela Lei, clínicas
veterinárias e hospitais veterinários também devem informar quando constatarem
maus-tratos.
Para a médica veterinária Márcia Gomes, o funcionamento da reabilitação
qualifica ainda mais o trabalho da Polícia Militar, facilitando a ação da
Sedam.
Reformado, o Cras estava desativado e o atendimento público fora
suspenso, lembra o subcomandante do BPA, capitão Jairo Alves Carneiro. Segundo
ele relata, antes da pandemia, a equipe do BPA dava palestras educativas sobre
a fauna e a flora para crianças e adolescentes.
Era comum a visita de grupos de alunos acompanhados de professores, para
assistir aulas em salas temáticas. Até 2021 é possível que sejam retomadas as
aulas de respeito ao meio ambiente.
“Quando se trata de filhotes, a soltura exige cuidados parentais; a
família do animal silvestre o ensina a se defender, porém, fica difícil quando
ele não tem essa família”, explica Márcia.
Cuidar de herbívoros e insetívoros é mais fácil, sugere a médica.
“Veados e tamanduás são logo recuperados, mas a onça, o gato mourisco e o
cachorro do mato precisam readquirir agilidade, ter o corpo treinado para fazer
a caça com sucesso depois da soltura”, assinala.
Animais recuperados no Cras são
devolvidos à natureza em zonas de baixa pressão, onde não ocorrem caçadas.
Queimadas seguem inimigas da preservação da fauna em Rondônia. De acordo
com a médica, jabutis e bicho-preguiça estão entre as maiores vítimas, devido a
sua movimentação mais lenta. Nas águas, eles se refugiam bem, mas na mata são
presas fáceis.
CORREDOR
ECOLÓGICO
Segundo o subcomandante do BPA,
major Jairo Alves Carneiro, atualmente, o Cras abriga um filhote de anta, dois
periquitos-da-Amazônia, um periquito-de-cabeça-suja, duas araras canindé, dois
papagaios-verdadeiros, dois jabutis, três tracajás e um tucano.
“O Batalhão é um corredor ecológico: possui uma pequena área de mata
onde recebe visita de alguns macacos, e eles vivem tranquilos entre as
árvores”, diz o subcomandante.
Dentre as espécies que aparecem nessa área se destacam: Zoguezogue,
parauacu [o conhecido macaco velho] sauim-de-cara-suja, mico Rondônia [espécie
rara e endêmica de Rondônia]. Esse mico foi descoberto e catalogado em 2008,
porém, já se encontra na lista de vulnerabilidade do Ibama.
Nesse aspecto, Márcia chama a atenção para as perdas de animais durante
os meses de queimadas. “Algumas mães morrem com os filhotes, mas não os
abandonam”.
Também a territorialidade influencia na soltura e na preservação.
Segundo ela, os animais sentem dificuldade em viver noutro ambiente, tão
habituados que estão ao seu, mesmo quando destruído. “A readaptação a outra
área é muito difícil”.
Diariamente o BPA recebe denúncia de maus-tratos de animais. O Batalhão
tem 35 anos de atuação. Seu eixo mais nevrálgico ainda é o Vale do Jamari, onde
ocorrem derrubadas ilegais de mata e queimadas. Outras regiões também exigem a
sua presença, entre elas, aquelas com terras indígenas e de onde há extração
ilegal de madeira bruta.
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* O BPA apoia ações do Departamento de Polícia Federal, Exército
Brasileiro, ICM-Bio, Ibama, Sedam, Subsecretária Municipal de Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável e outras secretarias municipais. Trabalham no
Cras: o 1° Tenente PM Alisson Lopes Pereira, 1° sargento José Marcos Ferreira
dos Santos, 3° sargento Eraldo de Macedo, Cabo Clerle Pereira de Souza, Cabo
Rafael da Costa Lima, Cabo Rafael da Costa Lima, Cabo Fábia Regina Araújo da
Silva, Cabo Luciana Soares Candeia, soldado Wesly de Souza Castro, Cabo Edmar
Fagundes, e o 3° sargento Cledison Costa Monteiro.
DENUNCIE MAUS-TRATOS COM ENVIO DE FOTOS
197 ou pelo wathsapp 984187820
Ou procure diretamente a Delegacia Especializada em Repressão a Crimes Contra o
Meio Ambiente, na Avenida José Amador dos Reis nº 3214, Bairro JK 1.
FALE COM O BPA
69 3230 1088 e 69 9 99956874
FALE COM A SEDAM
0800-647-1320 e 3212-9648
FALE COM O CORPO DE BOMBEIROS
193 ou pelo whatsapp 98482-8690 que funciona 24
horas.
Fonte
Texto: Montezuma Cruz
Fotos: Divulgação e Daiane Mendonça
Secom - Governo de Rondônia